Entrevista - Arte no Concelho



João Carlos da Silva Ramos, 28 anos, natural de Alhos Vedros, tem residido sempre na Baixa da Banheira, designer gráfico de profissão, a fotografia ocupa-lhe os tempos livres.
É este jovem fotógrafo amador, autodidacta, que apresentamos em “Arte no Concelho”, entrevistando-o.

Como é que lhe surgiu este gosto pela fotografia?

Surgiu-me ainda novo, recordo-me que nos meus 5-6 anos pedir a máquina fotográfica aos meus pais e, depois, quer em visitas de estudo quer em actividades do quotidiano, gostava de captar o que me aparecia, naquela altura, ainda não era selectivo, não escolhia os temas, mas empunhava a máquina e clicava no que me despertava a atenção.

Depois, como é que se foi aperfeiçoando na arte fotográfica?
Esse aperfeiçoamento, naturalmente, também um pouco à minha carreira profissional, em artes gráficas, lidando muito com imagens, nomeadamente fotografias, o que me ajuda a apurar a técnica da fotografia, aliás, a fotografia é uma arte que não se esgota num só momento, nós vamos sempre aperfeiçoando essa técnica, e, nos últimos 5-7 anos, tenho vindo a optimizar a técnica e as visões sobre a fotografia, procurando apurar-me, para me tornar um fotógrafo mais completo.

Qual é o seu palmarés na fotografia?
Posso dizer que os últimos dois anos foram muito completos na minha vertente fotográfica. Em 2007, participei, pela primeira vez, no Raid Fotográfico do concelho da Moita, confesso que foi desde essa altura que comecei a olhar com novas perspectivas a riqueza cultural do nosso concelho, o que, juntamente com a aquisição de um equipamento fotográfico mais completo, foi um incentivo e um impulso significativos para eu ‘agarrar’ as oportunidades que vão surgindo. O ano passado, voltei a participar no Raid Fotográfico da Moita, venci no tema cultura local e no portfólio (com as melhores 15 fotografias num universo de perto de 60 participantes). Em concursos, às vezes, concorro na Internet, mas a minha vida profissional não me permite dedicar mais tempo à fotografia.
A nível de exposições, tenho vindo a fazer com alguma frequência a divulgação da minha primeira exposição fotográfica, designada «A distância que nos une», que já vai no 4º local de exposição – arrancou na Faculdade de Letras, em Lisboa; passou pelo Posto de Turismo, na Moita; esteve na Escola Secundária da Baixa da Banheira; e está, agora, visível ao público, na Biblioteca Municipal de Alhos Vedros, até 30 de Janeiro de 2010. Entretanto, novos lugares se abrem, estou em vias de apresentar a exposição no Moinho de Maré do Montijo (data a confirmar), e, eventualmente, no Sítio das Quintas, em pleno estuário do Tejo, perto de Alcochete.

Tem uma certa inclinação para o tema do rio, porquê?
Lá está, isso explica-se por aquele impulso que foi o Raid Fotográfico em que eu venci no tema “O rio Tejo”. Foi um dia muito interessante em que eu, sem qualquer tipo de pressa, quer por querer vencer forçosamente, pois eu acho que quando se entra neste tipo de concursos devemos ir pelo espírito de fotografar, é esse o espírito que me motiva. Naquele dia, eu tive a oportunidade de apreciar a vertente ribeirinha em cada freguesia que compõe o concelho, e todas elas proporcionam visões distintas, têm paisagens diferenciadas e apresentam novas perspectivas.
Realmente, naquela altura surgiu um gosto muito intenso pelo rio, de poder captar uma paisagem ou a vida de um quotidiano de pesca, o detalhe que fica perdido numa rede ou num amontoado de paus ou canaviais. Aliás, o rio tem uma grande riqueza de cores e de vida, é um tema que a mim me diz muito.

Entre tantas fotografias que já tirou, há alguma que o tivesse marcado?
Sim, há algumas que pela forma, pelo local ou pelo tempo em que foram tiradas nos marcam. Há uma, retirada em pleno Raid Fotográfico, em que uma pessoa já de certa idade, acompanhado de dois jovens que, suponho eu, seriam os netos, durante largos minutos eu esqueci que estava ali a mais, porque o avô estaria a ensinar-lhes a montagem de uma vela numa embarcação que estava na praia do Gaio. Durante aquele tempo, tive a oportunidade de ir captando a interactividade que existia entre duas gerações, entre a traquinice do mais novo e a experiência do mais velho, via-se que havia ali muita cumplicidade entre os dois, então, senti-me uma pessoa privilegiada por poder apreciar aquele momento e captá-lo na máquina fotográfica. Portanto, esta e outras fotografias, no local, dizem-me todas muito, porque eu fotografo porque gosto e me dá prazer. É muito bom, sempre que tenho oportunidade, perder-me pela frente ribeirinha, apreciando o local e captando as imagens. Além da paisagem, gosto de interagir com as pessoas, falar e aprender costumes que vão estando perdidos, portanto, tento juntar o útil ao agradável.

E o património edificado não o seduz?
Sim, nós temos aqui, a nível local e distrital, uma riqueza enorme de património não só natural mas também edificado. Tenho também muitas fotografias relacionadas com esse tema, algumas delas até ilustram bem o que é o tema o rio. Na minha vertente fotográfica não procuro focar apenas o conceito de embarcação ou de costumes, procuro desdobrar o tema do rio nos mais variados conceitos ou temas.

Para além desta primeira exposição “Distância que nos une”, já pensa em alguma outra?
Sim, o objectivo é também não saturar com a mesma exposição os visitantes, principalmente aqueles que acompanham mais frequentemente os trabalhos que faço. Felizmente, esta exposição tem tido continuidade porque tem havido interesse por parte de entidades em querê-la nos seus espaços, mas o meu objectivo é não estagnar nesta exposição, entendo que ela tem um tempo de validade, e, mais tarde ou mais cedo, irá dar lugar a outros projectos, quero, de modo individual ou colectivo, continuar a expor trabalhos diferentes e para outro tipo de público que assim o deseje, portanto, não estou restrito a este tema do rio.

Concretamente, há algum projecto que gostasse de realizar?
Enquanto projecto pessoal, sem data ainda definida, gostaria de acompanhar ao longo de um dia a vida de uma pessoa ligada ao rio, desde a preparação dos apetrechos e da embarcação à faina no rio, com a recolha do material fotografado e o próprio convívio com essa pessoa. Este projecto surge da observação que faço, vendo o conjunto de acções relacionadas com a ida e o regresso de uma embarcação do rio. Este projecto, só por si, resultava numa sequência de imagens muito completa, acompanhando todos os momentos da actividade de uma pessoa (ou mais) relacionada com o rio.

Então, projectos não faltam…
É verdade, gostaria também de desenvolver alguns projectos com amigos, pessoas que também estão relacionadas com a fotografia e interessados em expor os seus trabalhos, numa exposição colectiva. Logo se vê, o tempo o dirá.

Afinal, o que é a fotografia?
A fotografia é em si uma arte que não se esgota, cada pessoa tem a sua interpretação e a sua forma de ver o pormenor e de interpretar a fotografia, mas o fundamental é a pessoa gostar de captar as imagens, sentir-se bem nos locais, tentar ter alguma perspectiva e captar um sentimento que conte uma história, cada fotografia deve encerrar uma história, transmitir algo e permitir colher alguma mensagem. Na visão do autor, julgo que a fotografia é isto mesmo – a partilha de sentimentos.

Nós, que o conhecemos bem, podemos dizer que João Ramos é um jovem generoso e solidário. É criativo, competente, rigoroso, responsável, naquilo que faz profissionalmente e como fotógrafo amador. A qualidade é a marca do seu trabalho e da sua obra. Desejamos-lhe os maiores sucessos profissionais e na sua arte.

J. BA
Fonte: Jornal O RIO 



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